Gilles Deleuze



Gilles Delleuze – uma pequena biografia

            Gilles Deleuze, francês, filho de um engenheiro, nascido em 18/01/1925, se torna um dos mais famosos filósofos franceses, apesar de ser antimídia e antipublicidade. Mas o que há de especial nesse francês?
            Em meados de 1948, Deleuze entra para o magistério, mas especificamente na área de Filosofia. Até que em 1957 ingressa na carreira universitária. Sendo em 1969 nomeado, por indicação de Michel Foucault, professor na recém-criada Universidade de Paris VIII - Vincennes, onde permaneceria até sua aposentadoria, em 1987. .
            O Centro Experimental de Vincennes será determinante na experiência docente de Deleuze e também na construção de seu pensamento transversal. Sobre essa experiência, escreveu ele:
            “Em Vincennes, a situação é diferente. Um professor, digamos, de filosofia, fala de um público que inclui, com diferentes níveis de conhecimento, matemáticos, músicos (de formação clássica ou da pop music),  psicólogos, historiadores, etc. Ora, em vez de “colocar entre parênteses” essas outras disciplinas para chegar mais facilmente àquela que pretendemos lhes ensinar, os ouvintes, ao contrário, esperam da Filosofia, por exemplo, alguma coisa que lhes servirá pessoalmente ou que tenha alguma intersecção com suas atividades. A Filosofia lhes interessará, não em função de um grau de conhecimento que eles possuiriam nesse tipo de saber, (...) mas em função direta de sua preocupação, ou seja, das outras matérias ou materiais dos quais eles têm já um certo domínio. (..) O ensino da filosofia orienta-se, assim, diretamente, pela questão de saber em quê a filosofia pode servir a matemáticos, ou a músicos, etc. - mesmo, e sobretudo, quando ela não fala de música ou de matemática [...].”
            Gilles Deleuze teve vários encontros especiais em sua vida, seja em sua vida pessoal ou profissional/filosófica. Destacamos os encontros abaixo de modo simples e dinâmico:
- Com Denise Paute Grandjouan. Foi um encontro pessoal, ela foi sua esposa e mãe de seus dois filhos. Também companheira de militância.
- Com Claire Parnet. Foi um encontro profissional/filosófico, ela jornalista foi sua parceira ao escrever Diálogos, em 1977. Esta também produziu uma série de entrevistas com Deleuze.
- Com Michel Foucault. Encontro filosófico. Encontro que vira amizade, principalmente porque tinham algo em comum: o interesse por Nietzsche; os dois seriam os responsáveis pela edição crítica das obras completas do filósofo alemão em francês, entre 1966 e 1967. Essa amizade filosófica manifesta-se numa série de artigos: Foucault comenta Deleuze; Deleuze comenta Foucault. Entretanto a política e a própria filosofia os separam: divergências de concepções políticas e de militância, que se agravam no final de 1977, fazem com que os dois simplesmente nunca mais voltem a se encontrar.
- Com Félix Guattari. Encontro profissional/filosófico. Os dois juntos produzem juntos  volumes de  Capitalismo e esquizofrenia:  O  Anti-Édipo,  em 1972, e Mil Platôs, em 1980, além do volume sobre a literatura de Kafka, em 1975, Kafka: por uma literatura menor, e da última grande obra dos dois e de cada um deles: O que é a Filosofia? (1991). Com Félix Guattari, Deleuze desenvolveu um estilo de produzir filosofia. A amizade é inevitável e Deleuze chega a dizer: “Eu preciso de meus intercessores para me exprimir, e eles jamais se exprimiriam sem mim: sempre se trabalha em vários, mesmo quando isso não se vê. E mais ainda quando é visível: Félix Guattari e eu somos intercessores um do outro.”
            Deleuze no fim de sua vida sofria de uma insuficiência pulmonar que lhe tirava as possibilidades de uma vida ativa. Não conseguindo viver com limitações, Deleuze pôs fim à própria vida: jogou-se da janela de seu apartamento em Paris, em 04 de novembro de 1995.





Gilles e sua percepção da vida acadêmica como docente:

“As vidas dos professores raramente são interessantes. Claro, há as viagens, mas os professores pagam suas viagens com palavras, experiências, colóquios, mesas-redondas, falar, sempre falar. Os intelectuais têm uma cultura formidável, eles têm opinião sobre tudo. Eu não sou um intelectual, porque não tenho cultura disponível, nenhuma reserva. O que sei, eu o sei apenas para as necessidades de um trabalho atual, e se volto ao tema vários anos depois, preciso reaprender tudo. É muito agradável não ter opinião nem  idéia sobre tal ou qual assunto. Não sofremos de falta de comunicação, mas ao contrário, sofremos com todas as forças que nos obrigam a nos exprimir quando não temos grande coisa a dizer. Viajar é ir dizer alguma coisa em outro lugar, e voltar para dizer alguma coisa aqui. A menos que não se volte, que se permaneça por lá. Por isso sou pouco inclinado às viagens; é preciso não se mexer demais para não espantar os devires.”

Gilles e a Filosofia

            Para entendermos a caminhada de Deleuze com a filosofia, precisamos transcorrer alguns anos antes da história filosófica francesa. Esta sempre foi muito marcada pela história da filosofia, especialmente a produzida nos meios acadêmicos. Duas linhas insinuavam-se na constituição do pensamento filosófico francês do século XX: de um lado, a filosofia da vida na produção de Bergson e, de outro, uma filosofia que, voltada para o mundo da vida, queria transcendê-Io, encontrando a originalidade dos conceitos, a partir da produção metodológica de Husserl. Boa parte da filosofia francesa daquele século foi marcada pela fenomenologia (afirma a importância dos fenômenos da consciência, os quais devem ser estudados em si mesmos). A descoberta do método proposto por Husserl, balançou os estudantes de filosofia franceses, que tentavam fugir de uma metafísica do abstrato e buscavam a possibilidade de produzir uma filosofia do concreto. Dois dos maiores expoentes da filosofia francesa no século XX, JeanPaul Sartre e Maurice Merleau-Ponty, foram, não por acaso, leitores (ou releitores) de Husserl.
            Sartre, desde muito jovem, teve sua produção filosófica marcada pela filosofia
husserliana. Sartre acaba “existencialista” – nós temos liberdade/responsabilidade sobre nossa vida - ao usar o método criado por Husserl para descrever o fenômeno de ser do ser humano. Merleau-Ponty, por sua vez, procurou seguir com a fenomenologia do ponto no qual Husserl houvera parado. O filósofo francês opta por trabalhar uma fenomenologia do corpo, e não da consciência, como fez Sartre.
            Mas um alemão atravessou a filosofia francesa: Nietzsche. Um dos principais responsáveis por trazer Nietzsche a França foi Pierre Klossowski, filósofo da mesma geração de Sartre, geração que marcaria a formação de Deleuze, Foucault entre outros.
            Deleuze acredita que a filosofia consiste em uma atividade criadora e não apenas reprodutora. Trata-se, portanto, de produzir filosofia a partir da história da filosofia, não ficando confinado a ela, mas criando novos conceitos, pensamentos que são herança de Nietzsche: “Não castrar o intelecto mas, ao contrário, fazer proliferar as experiências de pensamento”. Na filosofia, Deleuze bebe em Spinoza, em Bergson, em Hume, em Kant, em Leibniz. Mas há a literatura: Proust, Lewis Carrol, Herman Melville, Sacher-Masoch. Há o cinema. Assim, não é possível dizer que Deleuze tenha sido um “nietzscheano”, como não o foram Foucault, Derrida entre outros. São singularidades numa multiplicidade, singularidades que têm em comum atender ao apelo de Nietzsche de atentar para a diversidade como elemento positivo na produção dos conhecimentos, mas que, justamente por atender ao apelo da diversidade, ficam marcadas pelas diferenças, entre si e com as outras.
Referências para a síntese:
GALLO, Silvio. Deleuze e a Educação. Autêntica, São Paulo: 2003.